Eis o primeiro post recebido como parte do processo seletivo do Dragão Banguela.
A imagem acima não tem nada a ver com o assunto, mas aqueles que não enviaram imagens junto com os posts ganharam o direito de serem zoados por mim!
Com a palavra, Ronin Pavani:
RPG é uma sigla em inglês que quer dizer “Role-Playing Game”, podendo grosso modo ser traduzido como “Jogo de Interpretação de Papéis” ou “de Personagens”. Ao contrário do que acontece em países como França e Espanha, no Brasil se utiliza a sigla em inglês.
Trata-se de uma modalidade lúdica (portanto uma fantasia, uma ficção) que tem por objetivo contar uma história de uma maneira diferente. Por exemplo, ao assistir um filme ou ler um livro, uma história é contada ao indivíduo. Porém, muitas pessoas já se imaginaram no lugar dos protagonistas dos filmes, vivendo suas aventuras – e procurando se sair até melhor do que eles. O RPG vai ao encontro deste grande anseio. Ao invés de uma história contada PARA o indivíduo (sujeito passivo), ela será contada COM o indivíduo (sujeito ativo).
Em uma partida de RPG os participantes (jogadores) controlam os personagens da história, e decidem suas ações, como se estivessem exatamente em seu lugar, isto é, como atores encenando uma peça de teatro, uma telenovela ou mesmo uma superprodução cinematográfica. Todavia, em todas estas ocasiões existe um roteiro pré-determinado, o qual deve ser rigorosamente seguido e, por conseguinte, não podendo ser modificado após o seu início. Os atores não podem alterá-lo de acordo com a sua vontade, pois é o diretor da produção que os controla e pontua tudo o que irá acontecer. Já os jogadores de RPG, por sua vez, possuem, como atores, um privilégio: eles podem decidir, por si sós, os rumos da história, de acordo com as atitudes tomadas em pontos específicos da mesma. O roteiro de uma partida de RPG funciona apenas como um guia, uma linha para direcionar os jogadores, sendo construído/desconstruído/ reconstruído dentro da própria partida.
Na grande maioria das vezes, os personagens dos jogadores são os astros, os protagonistas da história a ser contada. Assim como um escritor ou roteirista pode imaginar qualquer herói, vilão ou criatura, eles podem interpretar qualquer coisa – porém, serão coerentes com a história a ser contada: índios e vaqueiros em um cenário de faroestes; bandeirantes e quilombolas no Brasil Colonial; policiais e jornalistas em uma trama de mistério moderno; cavaleiros e camponeses em uma aventura de fantasia medieval.
Boa parte das pessoas, quando crianças, já se colocou na pele de um personagem em brincadeiras simples, tal qual “mocinhos X bandidos”; contudo certamente já ocorreram situações desagradáveis, como a criança que finge ser o mocinho dizer que acertou o bandido, ao passo que este diz que ele errou. Os dois amigos, então, acabam por se aborrecer e partem chateados para casa. Como não existem regras para definir um erro ou um acerto, a discussão jamais acabaria em um final justo, no entanto em uma partida de RPG isso não ocorre. Com efeito, um jogador especial é escolhido para ser o “Mestre do Jogo”, ou “Narrador”, seu papel durante o jogo não é como o dos demais – interpretar um personagem em específico, mas sim agir como um juiz-diretor. É ele quem propõe a história a ser contada (e o desafio a ser atingido), além de controlar todos os outros personagens que não pertencem aos outros jogadores – os antagonistas e demais personagens secundários, quase sempre vilões, monstros, vítimas e aliados. O mestre, obviamente, também deve conhecer melhor as regras do jogo, para orientar e julgar as ações dos jogadores.
Por exemplo: digamos que a história criada pelo Mestre se passa no interior do Brasil, no início do século XIX. Participam do grupo os três jogadores: Fernando, Joanir e Fabrícia, os quais interpretam, respectivamente, um caçador, um padre e uma cortesã; juntamente com o “Mestre” Ronin. Os personagens viajam entre duas cidades do interior, em uma carroça puxada por um jumento. De repente, o Mestre descreve que um casal de jovens negros corre na direção da carroça. Eles explicam que são escravos fugitivos de uma fazenda, e estão sendo perseguidos pelo feitor e alguns outros homens. Eles pedem ajuda. O que os jogadores, enquanto intérpretes dos personagens, irão fazer?
Eis o grande momento de qualquer partida de RPG: a oportunidade concedida aos jogadores para decidir, isto é, mudar o rumo da história com suas ações (ou omissões) – diferentemente de atores em uma peça de teatro, que são limitados pelo roteiro. Assim sendo, o que os jogadores escolhem fazer? Seguir seu caminho, sem se preocupar com o problema? Ou ajudar o casal?
Além de decidir, os jogadores devem pensar e planejar. Se escolherem ajudar os escravos, COMO irão fazê-lo? Aquilo que ficar decidido e acordado entre os jogadores será ouvido pelo Mestre do Jogo, que irá mudar a história dependendo das escolhas tomadas.
Talvez seus planos funcionem, talvez não. Sempre que um personagem tenta fazer uma ação, ele pode conseguir ou falhar. Assim como na vida real, atividades simples têm maiores chances de êxito, enquanto que atos difíceis quase sempre falham. Abrir uma porta destrancada, por exemplo, é demasiado simples. Porém, ações mais complexas, como saltar de um cavalo em movimento para outro, exigem um teste. Em quase todos os jogos de RPG, o teste é feito rolando um ou mais dados – eles representam a sorte e o acaso, o componente aleatório. As regras dizem qual resultado é preciso conseguir nos dados para ser bem sucedido; levando-se em consideração, também, as habilidades e perícias de cada personagem. Dependendo da rolagem, o Mestre continua decidindo o rumo da história. Mais um exemplo: um soldado que tenha treinamento adequado com arco terá uma maior chance de acertar uma flecha em um alvo que esteja a 100 m de distância do que uma criança que nem ao menos sabe manejar corretamente a arma.
Por fim, o RPG possui uma característica que o diferencia fundamentalmente da grande maioria dos jogos: é um jogo cooperativo, e não competitivo. Isto é, os jogadores não competem entre si, e sim agem em grupo para vencer os desafios propostos pelo Mestre; todos ganham ou perdem como uma equipe. Da mesma forma, os jogadores e o Mestre não competem entre si – eles agem em conjunto para que a história seja divertida e enriquecedora. Essa interação e incentivo ao trabalho em conjunto são a maior fonte de diversão do RPG, tornando-o um dos jogos mais saudáveis que existem.
Sendo um jogo, uma brincadeira, o objetivo do RPG é, em última instância, entreter. No entanto, graças a tudo o que já foi exposto até aqui, diversos profissionais enxergaram outras aplicações para o RPG além da diversão.
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