Lidando com a falta de interpretação

Eu nem ia postar porra nenhuma esses dias, mas como tomei umas cervejas no meio da semana acabei ficando bondoso e resolvi alegrar os ansiosos leitores dessa pocilga aqui. Mas como tou doidão demais pra escrever algo, uso a artimanha de mandar um post do leitor perdido na caixa de e-1/2 do Dragão Banguela.

Então vamos conferir o que o Lucas Theodorovitz tem a dizer...

Seja por timidez ou por vontade de rolar dados e ver sangue jorrar, muitos jogadores deixam de “entrar na pele” do personagem e interpretar. Alguns até deixam de criar um background e descrição física por se importarem somente com os números na planilha de personagem. Se este é o estilo que você, Mestre, gosta e que os demais jogadores gostam, não perca tempo lendo esse texto. Caso contrário, apresentamos-lhes alguns conselhos de como superar este [difícil] obstáculo.

Estimule-os

            Isso significa mostrar-lhes os benefícios de se interpretar seriamente um personagem. Converse com eles e diga que não está dando certo ficar apenas rolando dados. Para os jogadores, pode ser divertido passar 10 sessões de jogo em uma masmorra, apenas limpando salas. Mas, para o Mestre, isso é entediante. É importante dizer-lhes que a interpretação traz benefícios para todos.

Dê o exemplo

            Será que os jogadores não interpretam porque não tem o exemplo? Alguns jogadores, principalmente os mais novos, observam os movimentos do Mestre e tentam imitá-los. É aquele momento em que um jogador faz alguma coisa e te olha como quem espera sua aprovação. Por isso, é importante que você interprete os vilões, camponeses, nobres, ninjas, alienígenas, prostitutas... seja homem e afine a voz para interpretar a mocinha em apuros! Gestos também ajudam. Mas tenha sempre a postura que espera que seus jogadores tenham. Fazer a voz da mocinha com um ar de deboche fará os jogadores não levarem a sério sua interpretação. Eduque pelo exemplo.

Inove

            Eu tinha um grupo que não interpretava, então fiz algo novo para mudar a mentalidade de meus colegas: comecei uma campanha nova e criei, eu mesmo, todos os personagens, além de seus históricos de vida e dicas de interpretação para cada um. Depois, sorteamos quem faria o papel de quem. Foi uma experiência muito recompensadora e, além de estimular a interpretação, alguns jogadores aprenderam a jogar com personagens muito diferentes dos que estavam acostumados. Eles acabaram gostando mais desses personagens do que outros que eles mesmos criaram em campanhas passadas. Outra ideia seria empilhar, antes de cada sessão, as planilhas do grupo da campanha. Cada jogador, então, puxaria uma aleatoriamente, tendo que interpretar de acordo com o personagem sorteado durante o dia.

            Utilize as ferramentas do jogo a seu favor também. Uma missão de espionagem, onde a interpretação adequada ajudaria o personagem a se infiltrar em uma guilda de ladrões, é um bom exemplo. Os personagens poderiam trocar suas aparências magicamente e tentar se passar pelo carcereiro orc estúpido que cuida das chaves da prisão. O objetivo aqui é inovar!

Seja bom

            Estimule os jogadores com premiações (normalmente em XP) pela interpretação ao final de cada aventura. E sempre, sempre elogie o jogador que interpretar bem (faça isso logo após a interpretação, se esta for digna de elogios, e na frente de toda a mesa - os outros jogadores também vão querer ser apreciados).

Seja mau

            Se nada escrito acima funcionar, você vai ter que ser mau. Isso quer dizer, atribua penalidades ao jogador que nunca interpreta, reduzindo sua premiação em XP em seus tão amados combates. Cuide para não deixar sua mesa precisar chegar a casos extremos, como  afastar um jogador da mesa.

  

            O RPG é, antes de um jogo de estratégia e interpretação, um jogo social. A conversa aberta com os jogadores problemáticos pode fazer milagres! E não se esqueça de que, como Mestre, você é também o juiz do jogo, e tem o poder para tomar as decisões da forma que achar melhor.